Momento desabafo

Procurando alguns vídeos no YouTube deparei-me com esse do Lance Armstrong...meus olhos marejaram...


Ao ver esse vídeo veio a mente um retrospecto de todas as adversidades pelas quais passei. Lembrei de algumas passagens do livro De Volta à Vida - Lance Armstrong, Sally Jenkins . Um livro que vale pena ler e reler!

Imagine-se vencendo uma prova de ciclismo de distâncias descomunais em cima de uma frágil porém sofisticada bicicleta de corridas, derrotando de quebra os melhores atletas da década, no circuito mais difícil do mundo em todos os sentidos, num total de mais de 5000 quilômetros em três semanas.
Não bastasse tudo isso, vencer esta mesma corrida de forma categórica por mais de cinco vezes. Impossível?
Acrescente então, receber repentinamente um dramático diagnóstico de câncer de testículo do tipo mais agressivo, com metástases nos pulmões e no cérebro, tendo que passar a partir daí, por um penoso tratamento cirúrgico e quimioterápico. A vitória e até mesmo a mera participação na tal prova torna-se mais do que improvável .
Sim, Lance Armstrong passou por isto, antes de ganhar pela primeira vez e de forma espetacular, o famoso Tour de France prova centenária do ciclismo de estrada, que corta a França, com subidas vertiginosas em lugares como os Alpes e os Pirineus e provas contra o relógio, onde facilmente chega-se à velocidades de até 112 quilômetros por hora. (...)

Um breve histórico


Em maio de 1992 fui diagnosticado com Carcinoma embrinário de testículo com áreas focais de teratoma imaturo. Por sorte não houve infiltração tumoral. Isto é, estava confinado ao testículo, sem metastase. Só descobri porque durante um acampamento no feriado do dia do trabalho naquele ano, em um jogo, levei uma joelhada nas partes baixas. No dia seguinte o testículo direito já estava enorme. Ao retornar do acampamento e em consulta com o urologista a primeira coisa que falou após exame: "isso não é só da pancada". Boa coisa não podia ser depois dessas palavras.
Indicação clínica após o ultrassom: retirada do testículo direito e 3 sessões de quimioterapia.
Bom, acho que não preciso dizer mais nada...quimioterapia simplesmente acaba com você. Não para nada no estômago.
O simples cheiro de café, por exemplo já me dava ânsias.
E aí seguem-se exames de sangue quase todo mês, tomografia, ultrassom...com o tempo o espaçamento entre esses exames vai aumentando; 3 meses, 6 meses, 1 ano... até que enfim fui liberado, não havia mais risco de reincidência do câncer. Só tenho que agradecer a quem deu essa joelhada!
Saiba mais:
https://drauziovarella.uol.com.br/doencas-e-sintomas/cancer-de-testiculo/
https://www.inca.gov.br/tipos-de-cancer/cancer-de-testiculo

Em maio/junho de 1998 certa manhã acordei como se um elefante estivesse sentado sobre meu peito. Uma pressão enorme que mal conseguia respirar direito. Andar alguns metros era quase impossível. Fui ao médico, fiz tomografia e ao trazer o resultado do exame veio a pergunta: "Você está internado?". Pela pergunta, boa coisa não era.
Diagnóstico: Pneumotórax espontâneo. Resultante provavelmente do crescimento rápido quando era mais novo. Formaram-se bolhas no ápice do pulmão esquerdo e romperam-se, liberando parte do ar que se acumulou entre o pulmão e a parede torácica. Internamento, quase uma semana no hospital fazendo drenagem do ar e não deu um mês, a mesma sensação. Desta vez não houve jeito, foi necessário fazer cirurgia para remover essas bolhas e fazer a aderência do pulmão esquerdo à parede torácica para impedir o colapso em caso de nova ocorrência.
Novamente... Radiografia quase todos os meses, ultrassom, tomografia...finalmente liberado!

Enfim, aqui estou. Treinando, correndo em busca de minha primeira maratona.
Acho que a frase abaixo cai bem pra tudo isso.

"A adversidade desperta em nós capacidades que, em circunstâncias favoráveis, teriam ficado adormecidas."
-- Horácio